Do Not Go Gentle Into That Good Night /
Não Vá Gentil Àquela Boa Noite
TRADUÇÃO
por Tomas Camillis
Não vá gentil àquela boa noite,
A velhice arde e brada ao fim do dia;
Fúria, fúria contra a luz em sua morte.
Embora o sábio enfim ceda à treva doce,
Pois na língua trovões não tinha, ele
Não vai gentil àquela boa noite.
Santos, a última onda, uivam pois brilhante
Teria seu frágil dom dançado em baía,
Fúria, Fúria contra a luz em sua morte.
Loucos que, cantando o sol em açoite,
Entendem, tarde, choravam-no em via,
Não vão gentis àquela boa noite.
O grave, à morte, vê em cegante golpe
No olho cego alegre meteoro tinha,
Fúria, Fúria contra a luz em sua morte.
E tu, meu pai, na tua altura triste,
Maldiz, benze-me em teu pranto eu pedia.
Não vá gentil àquela boa noite.
Fúria, Fúria contra a luz em sua morte.
*
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
*
SOBRE A TRADUÇÃO
Como intuito maior da tradução deste sempre imenso poema — talvez por demais conhecido — de Dylan Thomas, tentei, tanto quanto fosse-me possível, manter a essência de sua lírica formal sem perder o brilho do conteúdo. A mim foi imperativo preservar sua paradigmática forma de Villanelle (verso francês de cinco stanzas em três linhas e um último quarteto, com o primeiro e terceiro versos da primeira stanza rimados e repetindo-se em alternância, guiando de certa forma o realizar-se do poema), assim como sua métrica de pentâmetro iâmbico, seu esquema rítmico e rimas. Optei pela métrica do decassílabo (que guarda o mesmo número de sílabas e também o ritmo mais solene) e se preservei as suas rimas, algumas delas não são perfeitas. Também há um verso em eneassílabo (Não vá gentil àquela boa noite) e outro em hendecassílabo (Embora o sábio enfim ceda à treva doce) poisjulguei que sua métrica imperfeita ainda assim criava um ritmo mais afeito à fluidez do original. É um poema de ampla complexidade, repleto de síncopes e desarranjos de diversas naturezas, e nesta minúcia do fazer poético dei-me a liberdade de emular a sua sonoridade e manejar certas síncopes quando possível. Pequeno poema lírico é preciso traduzir de verso a verso, creio. Não movi, portanto, expressões ou palavras de um verso a outro, privilegiando assim uma leitura simultânea de ambas versões — que vejo como benéfica ao entendimento da tradução, melhor compreendida (é evidente) em contato com o original.
Talvez esta tradução aproxime-se de uma metáfrase, como John Dryden postulou-a, pois se alterei certas sintaxes e expressões foi para manter o máximo possível do original, este brilho elusivo que guarda a essência de uma obra. Talvez o valor de uma tradução seja o manejo da distância em suas aproximações e afastamentos, conservando semelhanças e cortando diferenças, moldando assim uma tensão favorável à arte. E há sempre certas coisas, como já disse o obscuro Heráclito, que apenas mantém-se ao se diferenciarem. Para estas, a tradução persiste.